domingo, 20 de julho de 2014

Contornou o corpo
com os traços que se perdem
em meio à veiculação.
Recuperou o tempo escorrido
em ralos daqueles
que impedem afirmação.
Sussurrou ao pé
do próprio ouvido
palavras de louvor.
O cinza da imperfeição,
coloriu como o primeiro dia da primavera:
de flor em cor.
“Amor é ninho”
e corpo é moradia,
perigo e ameaça,
mas lar do dia-a-dia.
Desacreditou
no cultivo de flores:
o verdadeiro jardim
é interior.
Não se fez
boneca de porcelana,
mas o asfalto deformado
pelas marcas do calor.
Em caso
do frio da madrugada,
a verdadeira faísca
era dentro de si.
Suspiro,
propriedade,
auto-tudo-o-que-fosse-bom.
Não havia mais
motivos para mentir.
“Mulher desgovernada,
sozinha na madrugada!”
Tudo o que ouvia
era “jovem libertada”,
tudo o que enxergava
era a tão vazia arquibancada.
As melhores poesias
eram egocêntricas.
Largou a escrita
para o garoto
A,
B,
C,
D.
Foi,
na noite
de domingo sem beijo,
o alfabeto inteiro.
Não se reduziu
a adjetivos fajutos
impostos pela mídia.
Corpo
não é pagão.
Corpo
é oração.
Livre de preconceitos
acobertados por opinião.
Percebeu,
então,
o excesso de vazios.
Parou
de preocupar-se tanto
com o tamanho
dos infinitos.
Dói.
Corrói.
Constrói.
Anulou
as frases com era.
Tornou-se
atemporal.
Ao distante passado,
acenou e deu oi.
Pela primeira vez
na vida,
foi.

Isadora Egler

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