sábado, 12 de julho de 2014


"I can't believe how you looked at me
with you James Dean glossy eyes,

in your tight jeans, with your long hair
and your cigarette stained lines...
Could we fix you if you broke?
And is your punch line just a joke?”

O grito contido, assassino. O fôlego aprisionado entre as ruas dessa cidade, consegues escutá-lo? Enxergar-me pendurando sorrisos nesse rosto sem retratos? O cheiro de podridão, dos restos teus exibidos em sinal de intimidação, em cada esquina da minha vida, consegues senti-lo? A alternativa única, obviedade em forma de simples escolha, é de que optas por fazê-los. Ou de que, em um caso talvez nem tão último, teus sentidos fecham a cara e invalidam-se para mim. Como a terceira margem do rio. Algo que observarias atentamente, ansiando pelo dia em que pudesses fazer-te coragem em sua forma mais concentrada. A grande lástima é que seguistes o caminho contrário à correnteza: correste assustado para o colo da mãe que desejava ser apenas biótica em uma realidade tão falecida. Conforto.
Não percebes? A realidade criada ao teu redor foi a ideia de aconchego nos desafios da vida. A indiferença, a luta já perdida, o caminho bifurcado. Desculpas sinceras por ter percebido o grande teatro. Más línguas dizem que homens são menos si próprios quando falando em primeira pessoa, dê-lhes uma máscara e a verdade se revelará. Ou se relevará, no caso de amor. Não poderia concordar mais. A viagem de um extremo a outro, a escrita acumulada, a morte juvenil. De uma capa que cobre o medo, não passariam. Perguntaste-me se estava nervosa. Ora, as atitudes não mentiriam. Não esconda, entretanto, a euforia. Poetas tem um quê de faro de detetive. São treinados para capturar emoção e fotografar com os olhos: no álbum das provas do crime, teu coração acelerado é a mais bela das evidências.
Apodrecerás na prisão que criastes para ti. Com a porta aberta ainda por cima, fingidor. Simplesmente porque o real aprisionamento está na mente. A saída fecha-se cada vez mais, à medida que te perdes na hipocrisia de tua ideologia mentirosa. Por que não largas a escrita, se és tão brilhante como ator? Tenho a impressão de que, nessa grande galáxia que é a vida, me guiei por uma estrela cadente. Atraente em todos os aspectos, o brilho dela quase fazia parecer que, por um instante, a desordem dos meteoros que insistem em colidir não havia. Faço, todos os dias, o mesmo caminho, procurando a pedra em que tropeçamos. Me perco. Perco tempo.
Entendes, alvo do meu caos, que chacoalhaste meu mundo e deixaste cair os últimos exemplares de esperança? Logo você. Logo poeta. Abandonaste-me com o desalento em alcançar oportunidades. Testou meu jogo, verificou excelência para que pudesse assumir cargos em tua vida. Uma forma de abuso sentimental: senti-me nua de certezas. Pensei (erroneamente) que pudesses salvar-me do nada que me tornei, enquanto acreditava ser tudo. A história, garoto dos lábios de nicotina, apenas me lembrou que é preciso ter cuidado com a dor gritante de sofredores. A verdadeira decepção arde, mas não berra. Nesse conto que jurei escrever como ouro gravado, posso ter cometido grandes equívocos quanto ao número de capítulos, mas sabes bem como sirvo para o cargo, menino dos cabelos longos. Limito-me à quantidade de parágrafos, mas deixo o melhor para o final, a revelação das verdadeiras personagens e o choque trágico: o amor se vai, mas a vingança bate à porta morrendo de saudades. 
"And I know that it's complicated
But I'm a loser in love
So baby raise a glass to mend
All the broken hearts
Of all my wrecked up friends..."
                       (Isadora Egler)

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