quarta-feira, 9 de julho de 2014

Lembro-me das vezes em que fui moça, quando a paixão quisera-me mulher. Mãos sem dedos, bocas sem dentes, olhos de menina e corpo adolescente. Pele fina, alma translúcida. Aponta-me como ingênua, nua de sentimentos, camada fina de quem nunca amou. Meu ser é descoberto, derrubado, brilho nos olhos, joelho ralado. Acordo atrasada, falta de ar, maturidade: atenção, e cuidado. “Garota, coração vazio é melhor do que cheio de lágrimas. Lembra-se do rapaz, o que fez com Fátima?” Lembro. Não me lembro. Finjo que sim. Respondo com dor o que espera de mim. A rotina segue-se como beira de estrada, minutos correm, verdadeira manada. Não há mais nada. O primeiro nem mesmo me notava. O segundo supunha-me e gostava. O terceiro fez do amor uma dança. O quarto tinha olhos de criança. O quinto prometeu com uma rosa. O sexto deixou-me esperançosa. O sétimo ainda está por vir. Aspirante a negligente, ar de indecente, abandonado por aí. A cor do olhar, o paletó no altar, a canção do casal, a declaração oficial, disso, nada sei. Intrínseca é, no entanto, a característica do acreditar. Amado, não terá medo. A consciência da cor do vinho não será nenhum segredo. Crédula, nunca mais. A máscara de anjo, não o satisfaz. Experimentação será o primeiro objetivo. O sétimo, como ninguém, saberá que escrevo poesia tanto quanto a vivo.
(Isadora Egler)

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