Lembro-me das vezes
em que fui moça,
quando a paixão
quisera-me mulher.
Mãos sem dedos,
bocas sem dentes,
olhos de menina e corpo adolescente.
Pele fina,
alma translúcida.
Aponta-me como ingênua,
nua de sentimentos,
camada fina
de quem nunca amou.
Meu ser é descoberto,
derrubado,
brilho nos olhos,
joelho ralado.
Acordo atrasada,
falta de ar,
maturidade:
atenção,
e cuidado.
“Garota,
coração vazio
é melhor
do que cheio de lágrimas.
Lembra-se do rapaz,
o que fez
com Fátima?”
Lembro.
Não me lembro.
Finjo que sim.
Respondo com dor
o que espera de mim.
A rotina segue-se
como beira de estrada,
minutos correm,
verdadeira manada.
Não há
mais nada.
O primeiro
nem mesmo me notava.
O segundo
supunha-me e gostava.
O terceiro
fez do amor uma dança.
O quarto
tinha olhos de criança.
O quinto
prometeu com uma rosa.
O sexto
deixou-me esperançosa.
O sétimo
ainda está por vir.
Aspirante a negligente,
ar de indecente,
abandonado por aí.
A cor do olhar,
o paletó no altar,
a canção do casal,
a declaração oficial,
disso,
nada sei.
Intrínseca é,
no entanto,
a característica
do acreditar.
Amado,
não terá medo.
A consciência
da cor do vinho
não será
nenhum segredo.
Crédula,
nunca mais.
A máscara de anjo,
não o satisfaz.
Experimentação será
o primeiro objetivo.
O sétimo,
como ninguém,
saberá
que escrevo poesia
tanto
quanto a vivo.
(Isadora Egler)
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