quarta-feira, 16 de julho de 2014


Tic-tac. Tic-tac. O relógio absurda cada segundo. Destruidor. Perverso. Como maquiavélica tentativa de lembrar-me os vazios eternos dentro de instantes. Milésimo a milésimo, atinge o êxito. A galinha quebrou ovos dentro de si mesma, como o poeta perdeu a poesia. A vida se esvai.
Diga-me, Clyde, não querias que fosse assim a minha prosa? Cheia de mágoa. "Dar voz ao escárnio da dor". Algemou-te ao tentador vazio. Preenchi-me com o sabor da incapacidade e o prêmio pela prova de fogo foi o silêncio da tua boca que abriga cigarros manchados de mentira. Testaste-me. Nem mesmo uma nota recebi. Uma nota melódica, quisera eu. O cantar dos pássaros calado pelas sangrentas mãos do inverno.
Passaste pela porta. Como Alice, lembra-te da poesia? Abafo o choro, o inquietar de pernas, a agonia corrosiva: de que maneira conseguiste? Sentes que estás a diminuir? Carregando um ego deste tamanho!
Se não aguentas a acusação, falso trovador, por que me feriste? É claro! A ilusória rebeldia. Deveria ter preparado tropas. Uma pena cair na ingenuidade de que soldado ferido não faz guerra. Armaste batalha muito previamente. Calculista. Calculado. Segui a estratégia do amor, enquanto foste liderado pelo desapego. Espadas à mostra: ataque à entrega.
Não fui Bonnie para ti. Recusaste a perda da inocência com copos virados e mãos entrelaçadas. Cigarros fumados e jogados fora. Uso. Estavas apenas sendo econômico, poupando o pouco sentimento que corre em ti. Disseste "jamais" e abortaste um futuro. Há um espaço que é teu e entendes muito bem o quanto infinitos são insubstituíveis. Pesadelos com teus olhos. Dor. Caso me encontre no peito da solidão, não me abrace. Fim. Reticências mortas.

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