Vagabundo,
sem vergonha.
Roubou o dinheiro
pra financiar a maconha.
É um marginal,
dizem.
Malandro!
Um mal educado,
só não se esqueçam
que a educação
não veio do Estado.
Faminto,
desletrado,
nem o nome
sabia escrever.
Nem mesmo imaginara
que esse,
tantas vezes,
aparecera na tevê.
A fome batia,
Francisco corria
pra praça
a fim
de abocanhar a próxima vítima.
Não entendia,
mas lá,
sempre ouvia falar
desses tais de elitistas.
Aristocratas,
incomodados com a presença de vira latas,
ignoravam
seu próprio existir!
Nem identidade
queriam pedir.
"Ei, burguês babaca!
Sua mãe tem pedigree?"
Ora, que covardia!
Todos sabemos
da opressão
que sofre
essa classe branca
noite e dia!
Não é de rir?
Consideram-se como nós!
Injustiçados
pela alegria.
Anseiam
o poder da fala,
mas não desejam
os anos de escravidão.
Francisco
podia ser preso,
perigoso,
apanhado.
Seu sol,
a partir de agora,
tem permissão
para nascer quadrado.
Só pedia,
coração,
“que a lua
para todos nós
também nasça redonda”,
afinal,
cantamos felicidade,
e sobretudo,
pagamos a conta.
(Isadora Egler)
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