domingo, 27 de julho de 2014

Vai chegar o dia
em que a poesia
escorrerá
pelos nossos olhos.
O futuro mentido
chegará no frio, 
sem casaco,
sem botas,
sem luvas,
sem sentido.
A desculpa usada durante tanto tempo
sobre o amanhã diferente
que dá orgulho,
não passará da mais pura ilusão:
vontade de viver
em cima do muro.
Foram tantos anos,
sono, sonho, panos,
tecendo o mais belo vestido,
coisa de princesa,
estudando o amor:
matéria da realeza,
símbolo de nobreza,
para um dia,
no entanto,
os ratos,
raça da desilusão,
correrem dos esgotos
e roerem tudo aquilo
onde cabe um coração.
O ateliê fica vazio,
clientes desapropriados choram rios,
a monotonia
apropria-se do local.
Decidimos por seguir,
logo,
uma vida normal.
Cedemos ao encanto da rotina:
o que parecia tão maravilhoso,
transfigura sina.
Ah,
a infância
acabará.
É,
o destino
é
um verdadeiro
cabaré.
E já consigo desenhar a cena:
o vento frio entrando pela janela,
a TV ligada
discutindo a terceira guerra,
mente vazia
trabalhando em suas mecânicas diabólicas:
queimaremos todos os livros de amor
e acenderemos uma fogueira
em busca de calor.
Mais tarde,
olhando para ela,
perceberemos:
durante toda nossa vida
temos sido
a chama de uma vela.
O desejo pelo diverso apagará,
nada mais em nós
conseguirá queimar.
Os olhos
começarão a marejar
e nem o mais experiente dos marinheiros,
terá habilidade de navegar.
Os dedos congelarão,
surgirá a tentação:
às brasas
se jogar.
Pois não há força nesse mundo
que aguente o peso
da saudade do verão,
de um mar de desilusão.
O que um dia foi ruim
nunca mais se tornou bom.
Pele
que não sente mais toque
ou sensação.
O medo,
então,
esvair-se-á.
Atirar-se nela
será o momento presente.
O romance de que tanto falam
estará demasiadamente ocupado
para nos libertar:
assim se cumprirá a profecia
dos poetas
que tanto escreveram
sobre amar:
a própria vida
assassinar.
A rima perdida
finalmente encontrar.
Das mentiras passadas,
se desgarrar.
Sentir o acalento,
o real paraíso.
A morte
abraçar.
Sem mais
se preocupar,
à noite,
se a manhã

de
chegar.

Nenhum comentário: